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sábado, 10 de dezembro de 2011

Um dia qualquer

Segunda-feira, um tédio total. O sol resolveu matar todo mundo hoje. Ninguém prestando atenção em nenhuma palavra que a palestrante falava, tanto que até ela se perdeu várias vezes, e não se achava. Gaguejava bastante, provavelmente a primeira vez que fazia aquilo, mas isso não era problema de ninguém. Dia errado pra ela começar, muito quente. Quem diria que depois dali ela beberia tanto o seu fracasso e acabaria em um hospital em coma alcoólico. Mas isso não era problema de ninguém dentro daquele do salão. Cada um tinha seus próprios problemas.

O ar estava quebrado, e os ventiladores portáteis que trouxeram não eram suficientes. Uma menina de cabelo cacheada estava grávida de poucas semanas, e batucava o lápis na mesa freneticamente. Mas isso não era problema de ninguém, além dela e do loirinho do fundo da sala, que roía as unhas. O pai.

Outra fungava e espirrava freneticamente, gripada em dezembro com os termômetros 39 graus, talvez 40. Morreu uns dias depois da palestra. Mas nem foi da gripe, atropelada mesmo. Mas isso era um problema de ninguém ali no salão.

Tinha um cara, chamado... Ninguém sabia o nome dele na real, mas chamavam ele de Jones. Jones dormia em todas as aulas, todas as palavras, o intervalo inteiro. Um vagabundo visto pelos outros dali, babando na classe em cima dos próprios livros. O que ninguém sabia é que ele trabalhava a noite toda pra sustentar a mãe viciada e a irmã menor, tinha no máximo quatro horas de sono decente e ainda tinha que estudar absurdamente mais do que todos em sua volta para manter a bolsa naquela maldita faculdade. 

Naquele calor que me faz crer fielmente que o inferno era ali, eu não tinha nenhum problema. Eu achava que tinha, vários. Tipo as contas, os amores, mas os meus eram menor. Eu era menor. Bem pequeno. E no final, todo mundo dentro do seu próprio mundo de problemas, crescendo, chorando, desistindo e morrendo. 

 Mais morrendo do que qualquer coisa.

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