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segunda-feira, 19 de março de 2012

"São longuinho, São Longuinho..."

Sabe quando você perde alguma coisa importante? Sempre acontece quando você mais precisa dela. 

As chaves do carro quando seu chefe liga de emergência. O controle da TV quando passa aquele comercial irritante. Seu celular quando precisa ligar à alguém. Sua caixa de remédios. É Ele. Está sempre fazendo de tudo pra irritar você. Você pode rezar pra quem quiser, mas não vai achar o que precisa até Ele devolva ao exato lugar onde você tinha deixado antes. Só vai voltar se Ele quiser. As vezes, quando você pedir para uma pessoa te ajudar, a coisa vai estar lá no lugar onde você olhou doze vezes. Só pra te deixar louco.

Mas peço de coração pra não deixar de procurar, porque Ele gosta de brincar. Se você não procurar até ele decidir ser a hora de parar de jogar, Ele pode ficar irritado. Ele pode tirar coisas mais importantes de você.

 Faz dois anos que perdi minhas chaves; não liguei, tinha uma cópia extra. Depois foram os óculos; fiz outro. Algum tempo depois perdi o carro no estacionalmento do carro, mas achei que não tinha muito a ser feito, deixei para lá.

Minha filha está desaparecida a dois anos. Mas não importa quanto eu procure, sei que Ele não irá devolver.

Essa é a minha punição. 

quinta-feira, 15 de março de 2012

O começo do fim

De longe, eu vi o mundo inteiro cair aos pedaços. Eu vi toda a humanidade que ainda existia se deteriorar, aos poucos. Na verdade, aos muitos. A população tinha diminuído a poucos milhares, e da minha janela, do oitavo andar, eu observa os prédios caídos, as almas rastejando pelas estradas.

Eu não sabia que era tão difícil se sentir impotente de fazer algo pelos outros, afinal de contas. Olhar e observar o mundo acabar, era tudo que estava ao meu alcance.

Há ainda algumas estruturas de pé por perto,e há alguém no topo de um desses prédios, que agora eram apenas como esqueletos tentando se manter de pé. Na ponta do terraço, de pé, olhando pra baixo. Eu conseguia sentir como era difícil a ideia de terminar logo com aquilo, pois eu mesmo já tinha pensado em morrer varias vezes. A luz do sol é forte demais que quase cega, o calor é insuportável, a comida acabando, água... dizem que água não tem gosto, mas é um sabor que eu sinto falta.

Mas o pior de tudo é se manter sozinho, porque querendo ou não, depois de um tempo, se você não morre primeiro, você acaba sozinho. Feito eu, e feito o ser humano suicida do terraço.

Eu poderia, talvez acenar e dar sinal avisando que eu estava ali, e que ele ou ela poderia contar comigo. Que talvez fosse nosso destino ficar juntos, conviver e aprender a amar de novo. Mas eu realmente não posso. Minha comida é pouca, e eu morreria mais cedo se "sustentasse" mais alguém. Então eu tenho que ficar quieto, e sozinho, porque é o melhor pra mim.

Provavelmente para ele também.

Então ele pula, e aqueles poucos segundos parecem milênios, séculos. Provavelmente essa desordem de tempo na minha cabeça é pelo sono e exaustão. Mas eu consigo sentir toda agonia, e por fim alivio daquele ser magro esmagado no concreto frio da rua. Porque a gente sente a mesma coisa, no fim do mundo. Todo mundo, o pouco do mundo, é igual. 

Desumano; desnutrido; desalmado.

Talvez eu devesse me matar também. Mas seria desperdício as 3 garrafas d'água que ainda me restam e as poucas latas de feijão que eu consegui. Então eu sigo olhando pela janela, tentando me aliviar na dor dos outros.