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Obrigada.


sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Metade de mim é amor

- Aonde tu tá?

- Hm, no centro.

Eu nem te conhecia direito na época, não sabia toda a diferença que você ia fazer na minha vida, mas eu já gostava quando me ligava pra falar bobagens. Eu gostava da tua voz. Queria agora poder lembrar dela, mas tudo que eu lembro são teus olhos azuis.

-Perto aqui de casa? - me perguntou, e garanto que estava sorrindo, só pelo teu tom de voz.

-Hm... mais ou menos. Tô pra cá da praça do centro já. E já to indo pra casa, tá ficando tarde. - com os braços cruzados, equilibrei o celular no ombro e na orelha. Dei uma olhada no relógio do pulso, e vi que já passava das sete e meia.

- Quer que eu te leve pra casa?

Eu queria, claro. 

Encostada na parede de fora do meu sebo preferido, com uma sacola de livros velhos - mas novos pra mim - nas mãos. Fiquei olhando a chuva fina caindo de leve.

- Que isso! - fiz uma contradição da minha própria vontade. - tá chovendo, não quero incomodar, não precisa.

- Eu não me importo com a chuva. Tem certeza?

- Tenho, tenho. Sério, não precisa.

- Ah, tá bom... tchau. - senti uma pontadinha de decepção na voz dele.

- Tchau.

Desligou. Fechei o telefone, e joguei dentro da sacola de livros.Baixei a cabeça e encarei a chuva fina e fria.

Como posso ser tão estúpida ao ponto de recusar que ele me levasse até em casa? Andei mais rápido do que o normal, engolindo a tristeza e decepção de mim mesma. Mordendo o lábio, pensando em possibilidades absurdas se eu tivesse aceitado a companhia dele.

De longe, ouço passos de corrida atrás de mim, claro, com a chuva aumentando desse jeito. Os passos vão diminuindo enquanto se aproxima de mim, e quando olho para o meu lado, ele, sorrindo, com as mãos pousadas nos joelhos recuperando o folego, e me olhando com os olhos azuis muito claros. Um sorriso bobo.

- Uau - deu uma pausa pra puxar o ar - você anda bem rápido.

- Não acredito que você veio até aqui correndo! - ri, abraçando-o.

- Se você quiser, posso voltar pra casa e... - falou apontando o polegar pra trás, sorrindo pra mim.

- Para de bobagem. - dei mais um abraço dele, sentindo o cheiro do perfume no pescoço.

Ele me deu a mão e andamos na chuva, conversando pouco e se olhando muito. Foi uma caminhada de uns 10 minutos até a esquina da minha casa.

- Obrigada por vir. De verdade.

- Não tem problema, madame. - ele sorri.

- Então tchau.

- Tchau.

Me olhou nos olhos,crispando o lábio, e virou as costas indo embora, olhei por uns segundos ele ir, e virei as costas pra ir embora, mas antes de dar o primeiro passo ele me chamou, voltando correndo.

-Hey!

Me puxou pelo braço e me beijou na chuva, em baixo apenas da luz da lua. Eu me perdi no mundo por alguns segundos. Tudo que eu sentia era o gosto, o cheiro, o toque, o abraço, a língua, os olhos fechados, a alma.... Quando ele me soltou de seus braços, eu ainda estava de olhos fechados, e um tanto tonta.

Ele sorriu, se afastando, sem dizer nenhuma palavra. Não que eu ache que precisasse de alguma palavra. Estava tudo feito.

Devo muito a ti e aquele dia. Foi ali que eu descobri que eu podia ter em quem confiar, um abraço e um ombro amigo. Foi ali, que, na primeira vez me senti amada de verdade. Me senti num livro, como os que eu carregava. Eu tinha descobrido o que era amor.

The Doors

Eu não gosto quando as coisas ficam nubladas na minha cabeça. Geralmente eu consigo lembrar de todos os fatos com clareza, todos os detalhes frescos. É fácil, quase um vício. Ter uma boa memória sempre me ajudou a escrever.

Não é o caso.

Tinha um porta, eu de um lado, você do outro. Eu sei que porta é essa, mas no momento, nas minhas lembranças era como e fosse uma porta prendida ao tempo e ao espaço, uma porta ou um portal. Você carregava em seus ombros algo realmente pesado. Uma caixa? Um amplificador? Todos as tuas dores e seus pecados? Não sei. Ridiculamente, mas minhas mãos papéis leves, que nem minha alma naquela época. Um contraste estranho.

Quando eu dava um passo a frente, você fazia o mesmo. Quando eu abria espaço pra trás, você fazia o mesmo. Uma sincronia idiota que durou menos de dez segundos, mas que foi suficiente pra arrancar esse teu sorriso no meu, minha timidez na tua.

"Oi."

"Oi."

Daí você passou, e eu também, e a mágica se desfez e tudo agora é tão nítido que não me tem mais graça.

A segunda porta que eu te vi, foi na minha, acompanhado de gente que eu conhecia tão pouco mas fiz questão de comentar algo estupido, pra que tu notasse minha presença. Não precisava disso, vi teus olhos em mim, assim como os meus em ti. Disfarçando, lentamente, encostado na parede com seus fones de ouvido branco, fazendo um solo de bateria invisível, vestindo seus all star azul e sua flanela vermelha.

Te vi através de uma porta de vidro, outro dia, também. Sentado no banco, com um livro no colo. Bem concentrado, sentado totalmente largado bem do jeito que eu faço.

Na porta de elevador, me sorrindo e me dando bom dia, perguntando o meu nome, ou acenando pra mim da porta do prédio.

Muitas portas. Muito eu e você.

domingo, 25 de setembro de 2011

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Me empurrou, e eu cai do meio fio que eu me equilibrava.

- Para, como tu é chato!

É um daqueles meus rituais, de quando eu era pequena, andar no meio-fio da rua, equilibrando-me ali como se toda minha vida dependesse disso. Ele nem liga muito para o que eu ligo, me empurra sem meu consentimento. Me irrita tanto esse sorriso constante, esse sorriso torto e todo debochado, esses olhos semi-cerrados por causa do sol, esses braços cruzados no peito em baixo da manga curta verde, esse cabelo que eu mesmo baguncei.... Me irrita.

- Tu que é um porre, guria.

Continua sorrir, e rir, e eu faço uma careta de desaprovar. Ele não é muito de ligar e sustenta o sorriso. 

Maldito.

Dai, daqui a pouco eu nem lembro porque eu tô brava com ele. Ele sorri tanto que faz eu me esquecer do...

do que eu tava falando mesmo?

domingo, 18 de setembro de 2011

Pra você:

não é que

eu precise

de você; eu

só preciso

de alguém.

Limbo me é.

Eu já nem existo.

Agora, tudo o que eu fiz na minha vida, todas as minha ações, movimentos, conquistar, sorrisos, tristezas, são nulas. Todos os passos que eu dei na minha vida, não fazem mais sentido. Respirar não é necessário, apesar de eu tentar fazê-lo aqui no limbo, por puro instinto. Aqui não existe ar, e a única coisa que eu sinto é uma queda infinita. Não tenho roupas no corpo, nem pelos no corpo, é como ser um bebê novamente. Nenhum som é emitido aqui e estou completamente sozinha. Diferente de quando em vida, agora eu até aprecio a solidão. Me deixo cair de todas as maneiras. Mas eu gosto de esticar as pernas e os braços pro céu (não é bem o céu, você entende, pra cima) e cai em gravidade zero com as costas para baixo. Eu não enxergo nada, não sinto nenhum cheiro, mas ironicamente sinto um gosto familiar na boca: picolé de uva. Aquele picolé de uva feito em casa pela minha vó, no sitio que a muito tempo eu não tinha uma lembrança se quer.

Agora me lembro das coisas mais absurdas, que antes pareciam tão insignificantes e esquecidas no fundo da minha mente. Como aquele cavalo marinho rosa de pelúcia que eu andava para cima e para baixo, quando criança. O meu primeiro beijo com um idiota qualquer, quando eu caí perto do garoto que eu gostava, quando eu estava deita na na grama, olhando as nuvens da noite se moverem lentamente tapando e destapando as estrelas que piscavam monotonamente. Eu queri sorrir lembrando dessas memórias, mas eu não comando mais no meu corpo. Eu só sou alma.

Lembro agora de cair no lago. De não saber nadar. De não ter ninguém por perto, me afogar, e morrer. Simples assim, morrer.

Morrer não é tão dolorido quando eu pensava, mas também não tão tranquilo quanto diziam. Mas como eles podiam dizer, se estavam todos vivos? Tão idiota pensar nisso agora. Afinal, será que isso ainda ode ser considerado pensar? Agora fico aqui considerando que todas as coisas no mundo não existem, e era tudo um sonho. E eu acabei de despertar. Agora ficarei assim pra sempre, até dormir de novo e acordar em uma nova vida. Talvez seja isso a vida e a morte. Talvez eu esteja sonhando nesse exato momento. Tantos talvez.... e eu que achei que teria todas as certezas, todas as respostas quando morresse. Idiota, eu.

E agora as outras pessoas que estão vivas e eu não (ou no meu sonho que acordei). Minha mãe, pai, amigos, namorado... Antes eu era Aline, agora eu sou o Limbo, e o Limbo me é. Vou esperar. Tenho muito o que pensar, muito o que desvendar dentro da minha própria mente, coisa que nunca fiz em vida. Nunca parei.

Boa noite.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Encaixe

Entre o teu, e o gosto do cigarro, escolhi o segundo.

Não por vaidades, mas um pouco de ego. Essa falta de respeito, esse ódio todo me explode de vez em quando. Não é de proposito, apesar de saber que tudo que tu fala é.

Entre me apaixonar e falar, preferi negar.

Se eu perder, perco sozinha. Se ganhar aí só eu que ganho, como diria Ana. É que o problema não é nem eu, sabe? É você. Toda a burocracia, toda aquela merda de amor. Não é pra mim, muito menor pra você.

Entre acompanhar teu ritmo, fui embora.

Tudo é muito diferente, tua voz da minha, o jeito que olhamos pras coisas e todo o mundo em si. Será eu que tô vivendo num mundo muito paralelo, imaginando coisas fora do real? Eu querendo cobrar de você, coisa que você nunca me deu e nunca vai poder dar. Nem pra mim nem pra ninguém.

Nossas mentes não encaixam.
Não vou mais tentar
me convencer do
contrario.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Foda-se o romance

Tinha um céu azul sobre nossas cabeças, e uma grande nuvem fofa branca, feito algodão. Eu fiquei observando-a ser levada pelo vento marítimo, bem quando eu tinha uma melodia na cabeça, mas eu não conseguia lembrar a letra da música.

Sentamos na ponta do pier de madeira. Como eu queria que ele tivesse pegado na minha mão, olhado pra mim de uma forma diferente... mas ele só fazia falar, falar muito. Eu, no mais, ouvia. A vezes nem ouvia, só ficava observando-lhe os traços do rosto se movendo, e sues lábios, e dentes e quando seus olhos se encontravam comigo. Eu me perdia bastante, aquele costume de fazer que sim com a cabeça, mas nem saber do que se trata. Eu até que sei disfarçar, mas tenho meus deslizes.

- Hein? - ele falou.

- O que? - perguntei, me dando conta que estava perdida nesses pensamentos em vez de prestar atenção no que ele falava. Ele riu.

- Perguntei se tu gosta da praia. - Falou olhando pro mar, que naquele dia estava num azul tão escuro que não conseguia nem ver as pedras mais superficiais e altas do mar. O mar batia violentamente contra os troncos do pier, e eu sentia os respingos nas minhas pernas e pés.

- Não gosto.

Me olhou confuso, franzindo as sobrancelhas grossas.

- Porque tu tá aqui então?

- Porque eu gosto de você, não da praia. - Me olhou fixo por uns momentos, e depois soltou um sorriso irônico, e balancei a perna demais pela ansiedade, meu chinelo caiu no mar. Fiquei olhando meu chinelo vermelho boiar por uns segundos, e depois ser engolido no mar. - mas que merda.

Levantei no pier, e joguei o outro pé no mar. O que eu ia fazer só com um chinelo só? Ele falou um bocado mais, mas eu não prestei atenção. Acho que ele sabe que eu não presto atenção, as vezes, mas continua a falar apenas pela necessidade de ter um ouvido. Eu gosto de sorrir, e acho que isso basta pra ele. No final, eu nem estava mais pensando nele, nem na voz dele, nem no sorriso, nem em mim.

Só no chinelo.

28 reais no mar.

Mas que merda.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Minha dor Gabriela.

Lembro da Gabriela, sentada contra o sol, com a cabeça encostada na parede, o cabelo caindo sobre o rosto, apenas com aquela regata desgastada cinza, e a alça do biquíni rosa destacando-se na pele branca. Lembro do cheiro do sal marinho, de mastigar a areia sem querer, e o chão da sala de madeira. A gente tinha preparado um chimarrão, mas Gabriela nem tava muito ai pra isso, ela gostava mesmo era ali do sol dourado do fim da tarde, se escorregando pela parede pra deitar no chão, meio torta, com os cabelos espalhados que pareciam fazer parte do assoalho antigo da casa quase vazia.

Eu só olhava, não podia fazer muito mais nada. Tomava um chimarrão, contava alguma coisa sobre a noite assada e Gabriela só fazia sorrir, e abrir os olhos um pouco, depois tornar a fechar. Olhos tão mais cansados que os meus. Olhos mel. E aqueles cílios. Convido Gabriela pra qualquer coisa, mas ela diz que quer ficar deitada mais um pouco no sol, não quer ir no parque, não quer sair pra beber, não quer ir pra casa.

- Eu gosto do teu chão. - Ela me ri uma risada quase sarcástica, sedutora, coisa que ela fazia sempre.
- Eu gosto de você.

O silencio. Seriedade no rosto de Gabriela por segundos que pareceram décadas pra mim, e depois um sorrisinho, e sol atrás de um nuvem. Gabriela se arrasta no chão até meu colo, e escala meu corpo, poem seus braços a redor do meu pescoço e gentilmente beija minha testa, meus olhos, meu nariz, bochechas, maxilar, minha alma. Gabriela é daquelas que faz sem ter motivo, não é de proposito, ela só faz porque sente.

Se deita de novo. Já é seis e meia passada.

Conversamos pouco, rimos muito, até que aquela voz, chama Gabriela por detrás do muro de minha casa. Gabriela levanta, passa a mão nos meu cabelos, bagunçando-os e nem se despede.

E lá se vai minha Gabriela, de mãos dadas com outro homem. Beijando uma boca que não é minha. Gabriela se vai, mas eu sei que amanhã, ou depois, minha Gabriela vai voltar. E quando voltar, vai ser minha.