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sexta-feira, 7 de abril de 2017

Meus lábios entreabertos

E mais uma vez eu sinto como se eu fosse desaparecer, mas ao mesmo tempo estou exposta em todos os outdoors. Meu coração pula, minhas mãos tremem e eu não consigo sentir meu rosto. Nem os braços. Nem as pernas. Eu realmente só queria desaparecer.

Por que essa música continua tocando em loop na minha cabeça? A mesma frase de novo, e de novo e de novo e de novo. 

Mantenho a boca semi aberta. Uma vez, em um funeral, minha prima disse que é impossível chorar se você não estiver o maxilar cerrado. É algo que nunca saiu da minha cabeça. Mantenha a boca aberta e tente não ser abraçada. Mas eu já provei o contrário. Eu chorei com a boca aberta com um grito que jamais terminava na minha garganta. 

Dou beliscões nas bochechas, no lóbulo, arranho as palmas da mão. Tenho sempre que lembrar de aparar as unhas, porque se não isso se transformaria num desastre. Mas as vezes eu esqueço de propósito. 

Meu estômago embrulha. Nada me apetece. Será que eu bebi água hoje? Ou foi ontem? Faço escolhas destrutivas como trocar uma refeição por três cigarros. Assim como ficar olhando para o teto por duas horas seguidas enquanto aquela maldita música, aquela maldita frase toca no repeat. 

As vezes o pensamento de que algo bom pode acontecer comigo me faz suas frio. Eu não estou acostumada com me sentir confortável, me sentir capaz, me sentir digna de ser amada. Separo os lábios, ponho os dedos entre os dentes, mas as lágrimas continuam caindo enquanto meu braço adormece e a música toca e aquela voz grita que eu não sou boa suficiente para você. Sou uma bomba relógio e não mereço estragar a vida de ninguém se não a minha. 

Talvez eu devesse manter minha boca fechada. 

terça-feira, 4 de abril de 2017

2016 - 2017

Subimos no ônibus. Você sentou do meu lado e eu já podia sentir o cheiro enjoativo do absinto misturado com a Coca-Cola quente que pairava na sua língua. Já não era como antes. Queria você para ficar de mãos dadas comigo, ouvindo nossas músicas e olhando os campos que passavam rapidamente por aquele vidro embaçado. Você viu o por-do-sol? Aquela nuvem fofa que estava tingida rosa e laranja? Você sabia que o que eu mais gosto de ver pela janela do ônibus são as vacas pastando preguiçosamente?

 Não sei, você estava bêbado e dormiu a viagem toda com a mão na minha coxa. 

Quando chegamos na praia, já passava das onze. Você sabe que eu odeio o escuro, que ataca minha ansiedade, mas pediu milhares de vezes que fossemos até a beira-do-mar. Eu fui. Eu tremia. De frio, de medo. Não havia uma estrela sequer no céu. Olhar aquela imensidão era como olhar para dentro e eu não conseguia parar de

 olhar pra trás; 

olhar pra frente;

 olhar pra trás; 

olhar pro lado;

 olhar pra trás. 

Meu coração estava disparado e não de um jeito bom e eu só conseguia ficar pensando "Por que eu me submeto a isso?". A gente voltou e eu me sentia enjoada enquanto você fumava sua maconha. Aquele dia dormi chorando. 

Depois, veio o 31. Trinta e um de dezembro de dois mil e dezesseis. Não era ali que queria estar. Eu não consegui nem beber para entorpecer porque a tristeza revirava meu estômago, mas isso não foi um problema pra você. Se enlouqueceu, fora de si, gritando, olhando para o céu. Será que você já sabia que o fim estava próximo? Não era ali que eu queria estar, não era com aquelas pessoas que eu mal conhecia, as músicas eram um bem ruins e tinha um gosto de ferro na minha boca. Queria muito um cigarro.

Durante os fogos, fechei meus olhos e fiz um pedido. Não lembro qual foi. Mas logo você estava falando sozinho, vomitando, eu querendo dormir mas tinha que cuidar de você, porque eu me importo contigo e eu te amo. Nunca te contei, mas foi o pior ano novo da minha vida. Me senti sozinha, acuada, perdida. 

Eu não queria estar ali. 

E depois a chuva. A gente andou por mais de meia hora no acostamento da rodovia. Eu estava com muita raiva. Você disse que era seguro, mas caia uma tempestade absurda, não conseguia ver nem um palmo na nossa frente. Era a segunda vez que eu estava com o coração disparado. Eu tremia. De frio, de medo. Olhar para aqueles carros que passavam rapidamente do nosso lado era como ver meus próprios pensamentos e eu não conseguia parar de

 olhar pra trás; 

olhar pra frente;

 olhar pra trás; 

olhar pro lado;

 olhar pra trás.