tag:blogger.com,1999:blog-80379164556520455772024-03-05T13:49:51.047-08:00Masoquismo MentalDivina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.comBlogger125125tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-72424388858093572072017-07-31T08:42:00.001-07:002017-07-31T08:42:37.428-07:00Lost in Translation<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt;">Tenho um certo problema para me lembrar das
coisas agora. Também tenho dificuldade para criar. Recordo que antigamente era
muito mais fácil para escrever sobre as coisas que aconteciam comigo, na minha
vida. Criar vidas novas era ainda mais fácil. Escrever era algo muito natural;
simplesmente me sentava na frente do computador e as palavras saíam das pontas
dos meus dedos como água de uma cachoeira. Fluía. Violenta. Incessável.
Quebrava nas pedras. Fazia o que tinha de ser feito. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt;">Agora.... É um grande esforço
conseguir passar de um parágrafo (pelo menos desta vez já estou no segundo).
Talvez seja a falta de prática. Passei vários anos sem escrever. Foram anos em
que eu fui arrastando várias das coisas que eu gostava de fazer, não só a
escrita. Claro, encontrei novas paixões no meio do caminho. Mas qual o motivo
de eu ter abandonado outras que eram absurdamente importantes para mim antes?<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt;">Há alguns meses atrás, quando
fui conferir quando tinha postado o meu último conto. Eu fiquei de boca aberta.
Agosto de 2014. Antes disso, fevereiro de 2013, e antes, agosto de 2012. Foi um
choque ver que foram três textos em três anos e depois mais três anos para que
tivesse coragem de escrever algo novo. Estava decepcionada comigo.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt;">Aonde foi que deu errado? Qual
foi o momento da minha vida em que eu decidi deixar para trás o meu grande
sonho de ser escritora? Quando foi que endureci meu coração desse jeito,
fazendo com que todas as coisas que eu escreva me soem piegas, clichês, sem sentido,
como se já tivesse lido aquilo em pelo menos cinco livros diferentes? Como eu
faço para amolecê-lo novamente? <o:p></o:p></span></div>
Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-90534504784375847672017-04-07T21:17:00.003-07:002017-04-07T21:17:44.824-07:00Meus lábios entreabertos <div style="text-align: justify;">
E mais uma vez eu sinto como se eu fosse desaparecer, mas ao mesmo tempo estou exposta em todos os outdoors. Meu coração pula, minhas mãos tremem e eu não consigo sentir meu rosto. Nem os braços. Nem as pernas. Eu realmente só queria desaparecer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por que essa música continua tocando em loop na minha cabeça? A mesma frase de novo, e de novo e de novo e de novo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mantenho a boca semi aberta. Uma vez, em um funeral, minha prima disse que é impossível chorar se você não estiver o maxilar cerrado. É algo que nunca saiu da minha cabeça. Mantenha a boca aberta e tente não ser abraçada. Mas eu já provei o contrário. Eu chorei com a boca aberta com um grito que jamais terminava na minha garganta. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Dou beliscões nas bochechas, no lóbulo, arranho as palmas da mão. Tenho sempre que lembrar de aparar as unhas, porque se não isso se transformaria num desastre. Mas as vezes eu esqueço de propósito. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Meu estômago embrulha. Nada me apetece. Será que eu bebi água hoje? Ou foi ontem? Faço escolhas destrutivas como trocar uma refeição por três cigarros. Assim como ficar olhando para o teto por duas horas seguidas enquanto aquela maldita música, aquela maldita frase toca no repeat. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As vezes o pensamento de que algo bom pode acontecer comigo me faz suas frio. Eu não estou acostumada com me sentir confortável, me sentir capaz, me sentir digna de ser amada. Separo os lábios, ponho os dedos entre os dentes, mas as lágrimas continuam caindo enquanto meu braço adormece e a música toca e aquela voz grita que eu não sou boa suficiente para você. Sou uma bomba relógio e não mereço estragar a vida de ninguém se não a minha. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez eu devesse manter minha boca fechada. </div>
Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-2440225940300384082017-04-04T05:30:00.001-07:002017-10-30T11:06:49.040-07:002016 - 2017<div style="text-align: justify;">
Subimos no ônibus. Você sentou do meu lado e eu já podia sentir o cheiro enjoativo do absinto misturado com a Coca-Cola quente que pairava na sua língua. Já não era como antes. Queria você para ficar de mãos dadas comigo, ouvindo nossas músicas e olhando os campos que passavam rapidamente por aquele vidro embaçado. Você viu o por-do-sol? Aquela nuvem fofa que estava tingida rosa e laranja? Você sabia que o que eu mais gosto de ver pela janela do ônibus são as vacas pastando preguiçosamente?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não sei, você estava bêbado e dormiu a viagem toda com a mão na minha coxa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando chegamos na praia, já passava das onze. Você sabe que eu odeio o escuro, que ataca minha ansiedade, mas pediu milhares de vezes que fossemos até a beira-do-mar. Eu fui. Eu tremia. De frio, de medo. Não havia uma estrela sequer no céu. Olhar aquela imensidão era como olhar para dentro e eu não conseguia parar de</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
olhar pra trás; </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
olhar pra frente;</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
olhar pra trás; </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
olhar pro lado;</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
olhar pra trás. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Meu coração estava disparado e não de um jeito bom e eu só conseguia ficar pensando "Por que eu me submeto a isso?". A gente voltou e eu me sentia enjoada enquanto você fumava sua maconha. Aquele dia dormi chorando. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Depois, veio o 31. Trinta e um de dezembro de dois mil e dezesseis. Não era ali que queria estar. Eu não consegui nem beber para entorpecer porque a tristeza revirava meu estômago, mas isso não foi um problema pra você. Se enlouqueceu, fora de si, gritando, olhando para o céu. Será que você já sabia que o fim estava próximo? Não era ali que eu queria estar, não era com aquelas pessoas que eu mal conhecia, as músicas eram um bem ruins e tinha um gosto de ferro na minha boca. Queria muito um cigarro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Durante os fogos, fechei meus olhos e fiz um pedido. Não lembro qual foi. Mas logo você estava falando sozinho, vomitando, eu querendo dormir mas tinha que cuidar de você, porque eu me importo contigo e eu te amo. Nunca te contei, mas foi o pior ano novo da minha vida. Me senti sozinha, acuada, perdida. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu não queria estar ali. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E depois a chuva. A gente andou por mais de meia hora no acostamento da rodovia. Eu estava com muita raiva. Você disse que era seguro, mas caia uma tempestade absurda, não conseguia ver nem um palmo na nossa frente. Era a segunda vez que eu estava com o coração disparado. Eu tremia. De frio, de medo. Olhar para aqueles carros que passavam rapidamente do nosso lado era como ver meus próprios pensamentos e eu não conseguia parar de</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
olhar pra trás; </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
olhar pra frente;</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
olhar pra trás; </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
olhar pro lado;</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
olhar pra trás. </div>
Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-62747538666843496072014-08-01T13:12:00.002-07:002017-04-03T10:20:35.820-07:00O universo está dentro de mim<div>
<span style="color: #141823; font-family: "helvetica" , "arial" , "lucida grande" , "tahoma" , "verdana" , "arial" , sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #990000; font-family: inherit;">Galáxias percorrem minhas veias. </span></span></div>
<div>
<span style="color: #141823; font-family: "helvetica" , "arial" , "lucida grande" , "tahoma" , "verdana" , "arial" , sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #990000; font-family: inherit;">Cometas atravessam meu estomago. </span></span></div>
<div>
<span style="color: #141823; font-family: "helvetica" , "arial" , "lucida grande" , "tahoma" , "verdana" , "arial" , sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #990000; font-family: inherit;">Tenho constelações na garganta. </span></span></div>
<div>
<span style="color: #141823; font-family: "helvetica" , "arial" , "lucida grande" , "tahoma" , "verdana" , "arial" , sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #990000; font-family: inherit;">Meus olhos são buracos negros.</span></span></div>
<div>
<span style="color: #141823; font-family: "helvetica" , "arial" , "lucida grande" , "tahoma" , "verdana" , "arial" , sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #990000; font-family: inherit;">Meus órgãos são feitos de poeira cósmica.</span></span></div>
<div>
<span style="color: #141823; font-family: "helvetica" , "arial" , "lucida grande" , "tahoma" , "verdana" , "arial" , sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #990000; font-family: inherit;">Meu cérebro é um planeta.</span></span></div>
<div>
<span style="color: #141823; font-family: "helvetica" , "arial" , "lucida grande" , "tahoma" , "verdana" , "arial" , sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #990000; font-family: inherit;">Asteroides estão em meu coração.</span></span></div>
<div>
<span style="color: #141823; font-family: "helvetica" , "arial" , "lucida grande" , "tahoma" , "verdana" , "arial" , sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #990000; font-family: inherit;">Estrelas estão fixas no meu céu da boca.</span></span></div>
<div>
<span style="color: #141823; font-family: "helvetica" , "arial" , "lucida grande" , "tahoma" , "verdana" , "arial" , sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #990000; font-family: inherit;">Já sofri de eclipses milhares de vezes.</span></span></div>
<div>
<span style="color: #141823; font-family: "helvetica" , "arial" , "lucida grande" , "tahoma" , "verdana" , "arial" , sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #990000; font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div>
<span style="color: #141823; font-family: "helvetica" , "arial" , "lucida grande" , "tahoma" , "verdana" , "arial" , sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #990000; font-family: inherit;">Eu sou o universo. </span></span></div>
Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-67004084203517846902013-02-22T06:50:00.002-08:002017-04-03T08:20:20.661-07:00A chuva da garota<div style="text-align: justify;">
Quando mais novo, nos anos noventa, me mudei muitas vezes. Variando de duplex, casas com
grandes quintais, sem quintais, alugadas, compradas, apartamentos, trailers,
hotéis e outros lugares que talvez teria vergonha de falar. Mas minha família não se mudavam porque meu pai recebia
grandes promoções ou por minha mãe ser uma renomeada escritora que precisava estar por todos os cantos do país para autografar livros. Não. Nós só nos mudávamos porque era assim que
eles gostavam de viver. Não se apegavam a lugares, amigos ou empregos. Até cheguei a ser matriculado em algumas escolas, mas nunca deu muito certo, então minha escola foi o mundo, meus professores foram meus pais e os livros, meus colegas as pessoas que conheci por toda parte. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Gostavam de conhecer todo o tipo de gente, e isso foi algo que puxei deles.</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Eu não era deslocado ou tímido. Muito pelo contrário,
gostava de fazer amizades por cada canto que passava, não importava idade,
cor ou raça, eu sempre estava envolta dos amigos que meus pais faziam e as
crianças curiosas que sempre rodeavam a gente por sermos novos na área. Há muitos lugares especiais em meu coração (como o pequeno vilarejo à beira do rio e república no topo do morro), onde aprendi coisas que
nunca vou esquecer, que me fizeram ser quem sou. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas nada foi tão marcante pra mim quanto a garota da chuva.</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Foi no alto dos meus 14 anos quando adquirimos nosso primeiro trailer. Tínhamos
permanecido em uma cidade pequena por quase um ano inteiro para que conseguissem
juntar dinheiro suficiente para comprá-lo, para pagar a gasolina e
outras despesas. Eu estava muito ansioso para essa viagem, porque já
tinha me acostumado a me mudar mais ou menos a cada três meses, então doze meses pisando no mesmo chão estava me fazendo ficar ansioso. Ao contrário das pessoas que sentem falta de suas
casas, eu estava doente por um novo lar. Viajamos por três dias direto, meus pais revezando a direção a cada doze horas para que um pudesse dormir e comer alguma
coisa. </div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Eu dormia quando chegamos no estacionamento de
trailers. Pela manhã pude ver que tinham mais de vinte espalhados por lá, estacionados de uma forma desorganizada que chegava a ser reconfortante. Foi
o barulho quente de pessoas falando e rindo que me fez despertar do sono pesado no pequeno sofá que eu tinha me escorado. Era bom, eu gostava desse tipo de gente,
calorosa e acolhedora. O local anterior era pequeno e com ares sombrios, de um jeito que faz a alma pesar. Mas talvez isso tenha sido uma coisa boa, as experiencias no estacionamento serem extremamente gratificantes. </div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Desci do trailer e o sol ofuscou meus olhos. Eu não conseguia parar de sorrir. Havia uma grande mesa estendida na rua onde todos comiam, bebiam e falavam sem parar. As vezes eu podia ouvir até línguas estrangeiras no meio de risadas um tanto embriagadas. Alguns comiam de pé, outros
estavam perto das churrasqueiras alinhadas sentados em cadeiras de praia, tinha uns tocando violão acompanhados de outros que cantavam canções que eu nunca ouvira antes. Mas eram lindas.<br />
<br />
O calor deixava o que estava amostra das
pessoas sempre estavam vermelhos ou descascados, e haviam um cheiro desconhecido que eu sempre vou me lembrar como a descrição perfeita da felicidade. </div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Depois de alguns minutos conhecendo alguns
"vizinho", encontrei meus pais sentados em uma toalha conversando com
uma mulher, o qual era chamada carinhosamente de Baba, que eu chutei ter uns 70
anos por sua aparência, mas ela falava como uma moça de 20 anos. Era engraçada e tinha uma desenvoltura magnífica. Todos os dias eu ia até seu
trailer para ouvir algumas de suas histórias loucas, as melhores eu ouvi quanto fui sozinho. Fazia um chá maravilhoso, fechava os olhos e sua língua ia despejando relatos tão magníficos que as vezes achava ser pura mente ficção.<br />
<br />
As vezes penso em Baba e me pergunto se ela realmente era desse planeta. </div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Quase todas as minhas lembranças do
estacionamento são de sol fervoroso, forte, radiante, com apenas uma ou duas
pequenas nuvens no céu. Na distância haviam paisagens de montanhas, que de tão
longe se tornavam menores que meu polegar esticado. Mas há uma memória
especifica que nunca saíra da minha mente, nem mesmo em meu leito de morte. <br />
<br />
A chuva da garota.</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
O dia começou cinzento, com muito vento e eu pude ver as mulheres tirando as
roupas dos varais improvisados e chamando os filhos mais velhos para dentro do
trailers e carregando os mais novos no colo. Todos se trancaram em seus
trailers, e o estacionamento se transformou completo silêncio por alguns
minutos. Ao longe eu podia ouvir trovões que pareciam como sons de tambores. Fiquei olhando por uma janelinha, esperando os primeiros pingos de
chuva cair. Foi uma tempestade intensa, daquelas que mantem um ritmo com seus pingos enormes e pesados. Essa chuva se manteve forte do minuto que
começou até o que se cessou. </div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Meus pais foram se deitar e pareceram adormecer
profundamente com o som acolhedor que a gotas fazia batendo no teto de aço,
enquanto fiquei debruçado na em uma janela. Dentro do meu coração eu sabia que estava esperando algo, mas não sabia o que. Então eu a vi. Vestida em um vestido amarelo rodado de alças que iam até os joelho, parecia ter saído do nada. Tinha
os cabelos curtos grudados no rosto redondo. E ela não parava de sorrir nem por um segundo. Não tinha sapatos e eu fiquei me perguntando se
não doía seus pequenos pés no chão incrustado de pequenas pedras soltas. Não sei se me viu, mas enquanto girava de braços abertos sorrindo pro
céu, tenho certeza que nossos olhares se encontraram através do vidro.<br />
<br />
Até hoje fico triste por ela não estar perto o suficiente para eu ver a cor de
seus olhos, mas quando ela vem me visitar em meus sonhos e me olha de perto, são cores de oliva. Deslumbrante. Mesmo de baixo da
chuva gelada suas bochechas continuavam rosadas. Parecia ser talvez um ou dois anos mais velha que eu, e ficou ali dançando para aquela música que tocava somente em sua cabeça.<br />
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Então, poucos segundos antes da chuva acabar, em
um piscar de olhos muito demorado que dei, ela sumiu. E a chuva foi com ela. Abri a porta e pulei para fora, e corri pelo estacionamento, mas como uma fada ela partiu tão misteriosamente
quanto chegou. Tentei descrever o melhor que eu pude a Baba, pois depois de
perguntar a todos os que eu tinha feito amizade sobre a menina, era minha
última chance. Mas ela também não sabia de nada. Por que eu não sai na chuva? </div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Não falei mais sobre esse assunto com meus pais ou com mais
ninguém, pois não queria que achassem que eu estava ficando louco ou remoendo
uma alucinação. Mas sei que eu não tinha inventado aquilo, que não era coisa
só da minha cabeça. A menina do vestido amarelo era tão real quanto a chuva.
Não ficamos no estacionamento mais de 4 meses.</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Eu ainda, toda vez que chove, não importa onde eu esteja, me
debruço na janela mais próxima, esperando que possa ver aqueles pés descalços e
cabelos molhados, girando e sorrindo. Mesmo que ela não saiba, que ninguém
saiba, eu sei que ela estava sorrindo para mim.<br />
<br />
E ontem a noite, eu a vi.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">Texto de 2013</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">Remasterizado em 2017</span></div>
</div>
Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-1039466690579044632012-08-25T19:14:00.001-07:002017-04-03T10:20:54.104-07:00Convivência <div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">[...] </span></span><span style="line-height: 115%;">Chegou em casa, tirou seus sapatos e colocou seus óculos em
cima da mesinha da sala. Coçou a barba e se olhou de relance em um pequeno
espelho que tinha na parede perto da porta. Seus olhos verdes se encontraram no
espelho e sentiu uma sensação estranha de não ser ele mesmo. Com a mão na barba
fixou-se naquele homem, analisando sua camiseta preta, os cabelos desgrenhados e a pinta na testa. Não parecia ter 45, qualquer um daria pra ele no
máximo uns 38 anos.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: times, "times new roman", serif;"><br /></span>
<span style="font-family: times, "times new roman", serif;">"Pai?" Ele
levou um susto ao ver Sarah no corredor dos quartos olhando pra ele enquanto segurava
um caderno e uma caneta. "Você tá bem? Tá se olhando nesse espelho a pelo
menos cinco minutos." Ficou o encarando, sem sorrir, mas pelo tom de voz não
estava séria, só curiosa.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: times, "times new roman", serif;"><br /></span>
<span style="font-family: times, "times new roman", serif;">"Ah, eu
estou bem sim, meu doce." </span><span style="font-family: times, "times new roman", serif;"> Riu, meio nervoso, pois também não tinha ideia
porque tinha se perdido na sua própria imagem no espelho. Deu mais uma olhada
de relance e tirou a mão da barba, colocando nos bolsos das calças jeans
escuras. "Onde está sua mãe?" Voltou a olhar Sarah, que mordiscava a caneta
olhando para seu caderno. "Para de morder essa caneta, ou vai acabar com a
boca cheia de tinta..."</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"> "Tá, tanto faz" Tirou a caneta da boca revirando os olhos pro teto "Ela foi comprar uns tecidos e agulhas e não sei o que, que disse que precisava para
um novo projeto ou tanto faz. Só queria saber se o almoço vai sair ou vou
ter que comer miojo de novo." [...]</span></span></div>
Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-35251127196373726462012-03-19T17:28:00.000-07:002017-04-03T08:32:31.204-07:00"São longuinho, São Longuinho..."<div style="text-align: justify;">
Sabe quando você perde alguma coisa importante? Sempre acontece quando você mais precisa dela. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As chaves do carro quando seu chefe liga de emergência. O controle da TV quando passa aquele comercial irritante. Seu celular quando precisa ligar à alguém. Sua caixa de remédios. É Ele. Está sempre fazendo de tudo pra irritar você. Você pode rezar pra quem quiser, mas não vai achar o que precisa até Ele devolva ao exato lugar onde você tinha deixado antes. Só vai voltar se Ele quiser. As vezes, quando você pedir para uma pessoa te ajudar, a coisa vai estar lá no lugar onde você olhou doze vezes. Só pra te deixar louco.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas peço de coração pra não deixar de procurar, porque Ele gosta de brincar. Se você não procurar até ele decidir ser a hora de parar de jogar, Ele pode ficar irritado. Ele pode tirar coisas mais importantes de você.<br />
<br />
Faz dois anos que perdi minhas chaves; não liguei, tinha uma cópia extra. Depois foram os óculos; fiz outro. Algum tempo depois perdi o carro no estacionalmento do carro, mas achei que não tinha muito a ser feito, deixei para lá.<br />
<br />
Minha filha está desaparecida a dois anos. Mas não importa quanto eu procure, sei que Ele não irá devolver.<br />
<br />
Essa é a minha punição. </div>
Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-69006765724554972022012-03-15T08:06:00.005-07:002017-04-03T08:39:01.006-07:00O começo do fim<div style="text-align: justify;">
De longe, eu vi o mundo inteiro cair aos pedaços. Eu vi toda a humanidade que ainda existia se deteriorar, aos poucos. Na verdade, aos muitos. A população tinha diminuído a poucos milhares, e da minha janela, do oitavo andar, eu observa os prédios caídos, as almas rastejando pelas estradas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu não sabia que era tão difícil se sentir impotente de fazer algo pelos outros, afinal de contas. Olhar e observar o mundo acabar, era tudo que estava ao meu alcance.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há ainda algumas estruturas de pé por perto,e há alguém no topo de um desses prédios, que agora eram apenas como esqueletos tentando se manter de pé. Na ponta do terraço, de pé, olhando pra baixo. Eu conseguia sentir como era difícil a ideia de terminar logo com aquilo, pois eu mesmo já tinha pensado em morrer varias vezes. A luz do sol é forte demais que quase cega, o calor é insuportável, a comida acabando, água... dizem que água não tem gosto, mas é um sabor que eu sinto falta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas o pior de tudo é se manter sozinho, porque querendo ou não, depois de um tempo, se você não morre primeiro, você acaba sozinho. Feito eu, e feito o ser humano suicida do terraço.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu poderia, talvez acenar e dar sinal avisando que eu estava ali, e que ele ou ela poderia contar comigo. Que talvez fosse nosso destino ficar juntos, conviver e aprender a amar de novo. Mas eu realmente não posso. Minha comida é pouca, e eu morreria mais cedo se "sustentasse" mais alguém. Então eu tenho que ficar quieto, e sozinho, porque é o melhor pra mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Provavelmente para ele também.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então ele pula, e aqueles poucos segundos parecem milênios, séculos. Provavelmente essa desordem de tempo na minha cabeça é pelo sono e exaustão. Mas eu consigo sentir toda agonia, e por fim alivio daquele ser magro esmagado no concreto frio da rua. Porque a gente sente a mesma coisa, no fim do mundo. Todo mundo, o pouco do mundo, é igual. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Desumano; desnutrido; desalmado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez eu devesse me matar também. Mas seria desperdício as 3 garrafas d'água que ainda me restam e as poucas latas de feijão que eu consegui. Então eu sigo olhando pela janela, tentando me aliviar na dor dos outros.</div>
Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-88228031573644225292012-02-24T13:12:00.004-08:002017-04-03T08:39:15.777-07:00ErasTrês dedos de vodka 'num copo de plástico, e depois<br />
na garganta.<br />
Tem um tanto de gente por aqui,<br />
tem um tanto de fumaça irritando meu olho.<br />
Barulho.<br />
Não consigo me lembrar como eu parei neste sofá sujo,<br />
mas é evidente que tem algo a ver com o gosto amargo na minha<br />
<br />
minha garganta.<br />
<br />
Arranhando o céu<br />
sem estrelas;<br />
<br />
da boca<br />
tua/minha boca. <br />
<br />
Mas me deixa dormir umas horas e-<br />
Algumas Eras.Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-19387052885206258872012-01-22T07:41:00.001-08:002017-04-03T10:19:07.159-07:00Outro Alguém<div style="text-align: justify;">
É estranho eu me tornar alguém que sempre odiei. Todos os dias, olhar no espelho é algo insuportável, não consigo engolir minha imagem, digeri-la e sorrir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Todas as vezes tento recusar que nunca odiei aquilo, ou a mim mesma, e tudo que se envolve por trás de ser ou não ser alguém.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Caroline, vamos sair." Alguém, um daqueles que odeio, me diz suave, pelo telefone, ou aparecendo em minha janela. Não quero, não quero, não quero!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Tá. Já vou sair."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E então vagar por aí. Fumar cigarros que me dão asco, beber bebidas baratas e dançar musicas repetitivas. No final das contas, todos sentados na sarjeta, vomitando, lamuriando, chorando, rindo feito babuínos. Todos juntos, tudo ao mesmo tempo. E depois de algumas horas, todos se metem em alguma casa, fumam alguma coisa, injetam outra, cheiram isso e aquilo, e cada um vai pro seu próprio mundo de merda. E eu também. Mesmo que eu odeie, eu estou lá, atirada no chão, no vomito, no meu próprio desgosto. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É triste pensar que acabei me tornando o que eu sempre mais odiei. É triste pensar que voltar, no final das contas, é impossível. Eu nunca vou deixar de ser esse alguém que não sou eu. Esse alguém que me tornei por você.</div>
Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-2098246372671033232012-01-10T18:23:00.000-08:002017-04-03T11:04:15.028-07:00Conto de Ninar<div style="text-align: justify;">
Um sonho anda atormentando minha cabeça nos últimos dias. No começo estou me observando dormir. A luz da manhã entra pelas frestas da cortina, iluminando minhas paredes azuladas. Estou deitada de uma forma que parece desconfortável, meio torta, com a cabeça posta pra trás. Mas durmo em um sono tranquilo. Vestida com uma blusa preta e calcinha da mesma cor, me mexo até me ajeitar em uma posição normal, de barriga pra baixo. Me assistir ali é incomodo. Me sinto incomodada por me ver dormir. Isso me da um impulso de gritar:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ACORDE!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A voz que sai de minha boca, não é minha, e eu, na cama, acordo de um salto, assustada. Agora, não sou mais a plateia de meu sono, e estou de volta ao meu corpo. Rodeio meu quarto com os olhos, observando cada canto, procurando pela voz. Nada. Me levanto, muito rápido, fico tonta, a visão foca preta por uns instantes e então tudo volta ao normal.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vou andando pelo corredor em direção a sala, a casa parece um pouco diferente do habitual. Isso não me incomoda. As cortinas da sala estão fechadas, e vejo meu pai, sentado de costas pra mim, assistindo televisão. “Vendo”, pois há só estática ali. Chamo por ele varias vezes. Não sei se é minha voz que não funciona, ou se ele não me responde, não há som nenhum na casa depois do grito que me acordou. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De novo, minha percepção do sonho muda, e meus olhos estão na televisão. Como se eu fosse a televisão assistindo meu pai. E ele está coberto de sangue, com a barriga aberta e suas tripas caídas no carpete branco da sala. A boca aberta, e os olhos arregalados, fixando o olhar em mim... Digo, na televisão. Me vejo logo atrás de meu pai, indo em sua direção, vendo meus lábios se moverem mas não há nenhum som. E então meus olhos voltam pro meu corpo. Inconscientemente, já sei o que vou ver, então dou um passo pra trás. A curiosidade, a maldita, é maior. Corro até meu pai, toco-lhe o ombro e ele cai de lado, com as tripas gotejando o chão, a língua caindo fora da boca, numa mistura de sangue e saliva. Ele fede. Os olhos vidrados. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Saio correndo, e mesmo que me lembre que chão de madeira da minha casa ser muito barulhento, nem um som é feito. Meus gritos, meu choro desesperado é inaudível. Correndo pelo corredor, entro no quarto de minha irmã, quase que pra fugir da realidade. Ela só tem cinco anos e seu quarto é coberto por castelos, coisas de princesa e contos de fadas. Assim que fecho a porta, e olho para o centro do quarto, pendurada pelo lustre que imitava aqueles de medievais, esta ela, enforcada, roxa. Assim como as pernas dela, penduradas, fracas, sinto as minhas amolecer. Seus olhos se fixam no meu, assim como os de meu pai na televisão. Seu pequeno corpo balança morbidamente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Recupero a minhas pernas e esticando a mão tremula, abro o trinco da porta que imitava um grande diamante. Me arrasto pelo corredor até sentir que podia correr novamente. Minha mãe. Corro para o quarto dos meus pais, abro a porta um pouco temerosa, mas não há nada. A cama está feita. As janelas estão com a cortina aberta, e o sol banha o quarto. É a primeira vez que eu vejo o sol, depois de acordar. Agora eu lembro, linha mãe nunca esteve em casa. Eu não tenho mãe. Corro de volta até o corredor. Um silêncio mortal. Exite uma sombra no final do corredor, parece olhar pra mim mas não se move. Desço as escadas correndo e atravesso a porta da frente, e olho pra rua. Não existe nada a não ser uma rua reta e infinita de chão batido, onde era pra afinal ter uma rua movimentada. Me sinto nua. Isso não está certo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ACORDE!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E estou de volta na cama. </div>
Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-55334750207144738432012-01-10T13:30:00.001-08:002017-04-03T11:16:07.089-07:00A flor<div style="text-align: justify;">
Então, lá estávamos nós, como sempre. Andando de mãos dadas pelas ruas de trás da avenida, onde provavelmente não encontraríamos ninguém. Eu ria o tempo todo das piadas sem graça que você fazia, dividindo tridente de melancia, e eu, como boa apaixonada, sempre com uma música de trilha sonora na cabeça. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Faz tanto tempo...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu pedia pra você me levar até em casa, mas lembro de que foram incontáveis as horas que ficávamos sentados na calçada da rua de trás para ficar conversando, trocando beijos, sorrisos e frases idiotas. Era puro coração, era alma. Até acho que teríamos dado certo, olhando para trás. Minha independência era mais forte que tudo, e um pouco do teu orgulho e nossas solidões misturadas. Mas isso já não importa mais, é tudo passado. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Já se passaram dez anos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Lembro do dia que estávamos debaixo de uma árvore, aquela das flores cor de rosa, tão lindas na primavera. Você resolveu que queria me dar uma, mesmo eu já sendo sua, e pulou para puxar o galho. Infeliz foi que o graveto que quase me cegou, e arranho meu rosto. Eu não sabia se ria ou me preocupava por poder ter ficado cega (mais isso eu estava só de amor). Você me pedindo mil perdões, beijando meu rosto, a flor caída no chão no desespero de eu quase ter perdido um olho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E a flor ficou lá. E com o tempo, o amor também. Não é culpa de ninguém, só do tempo.</div>
Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-72829232531368279542011-12-24T08:03:00.000-08:002017-04-03T12:17:22.752-07:00Enkel<div style="text-align: justify;">
Tinha, lá pra lá, em um lugar que nem tinha nome de tão longe, uma cidade pequena. Não viviam mais de algumas centenas de pessoas, mas era o suficiente. Suficiente para o mundo acabar ali mesmo. Era meio precária, cabanas tortas no meio do morro, algumas vacas e hortas em seus próprios terrenos. Não que cada pessoa tivesse um próprio território marcado, porque era tudo de todo mundo, tudo amigável porque o pecado não tinha ainda tocado a alma daqueles seres humanos tão distantes... Mas por pouco tempo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há alguns anos, Elizabeth, uma mulher pequena e loira, por causa de um estupro nunca contado pra ninguém, tinha dado a luz a uma menina igualmente loira, dos olhos azuis e das bochechas rosadas. Chamaram-na de Enkel. Seria a experiência mais pura, mais linda e perfeita, mas havia algo errado com a garota. E com a ajuda do pouco tempo e pouco amor vindo da mãe, ela não se portava normalmente. Nos primeiros anos, a mãe da menina estranhava o fato de Enkel não chorar. Não chorará na hora do parto, e nem depois. Simplesmente permanecia quieta, com os grandes olhos azuis claros sempre olhando fixamente pra face de quem a pegasse no colo, ou olhando para todos os cantos do quarto onde estava.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao começar a andar, Enkel quebrava tudo ao seu alcance. Não sem querer, simplesmente pegava as coisas e quebrava da maneira que achava mais prudente. E gostava de quebrar coisas que tinham algum valor para os outros. Parecia que sabia como fazer os outros sofrer. Várias vezes o marido de Elizabeth espancou Enkel, castigou-a. Mas nenhuma lágrima, só o rosto infantil, olhando o homem. Ele se sentia culpado, todas as vezes, mas não via outras alternativas. Nessa época não passava dos três anos. E por mais que a mãe dela tentasse, ela não falava. Ficava quieta, com os lábios cerrados, apenas olhando-a e a mãe implorando pra que ela falasse “mamãe”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Com a idade de sete anos, as coisas começaram a ficar um pouco mais sérias. Quebrar janelas já não era dos seus passatempos favoritos, mas sim matar pequenos animais. Constantemente achavam-na em galinheiros coberta de sangue e penas de galinha. Matou uns três gatos, vários ratos, qualquer pássaros descuidado. A primeira vez que Elizabeth viu a menina sorrir foi quando tinha dez anos de idade. Ela estava com a machadinha de lenha nas mãos, e o cabrito da família estava esquartejado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Até tentaram colocar a pequena junto com outras crianças em uma escolinha infantil. Mas ela sempre estava perseguindo as outras meninas e meninos, batendo, puxando os cabelos, mordendo as crianças até que o sangue saísse grosso entre os cortes dos dentes de Enkel. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aquilo foi a gota d’agua. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Todas as pessoas da cidade estavam amedrontadas pela a alma Enkel. Os mais velhos diziam que ela era o pecado em carne e osso, e outros diziam que era a filha do próprio Belzebu. Nenhuma família dormia sossegada, nenhuma criança brincava na rua, e constantemente os cabelos loiros avoaçados pelas ruas atormentavam os moradores. Elizabeth teve de tomar medidas drásticas e acabou por trancar garota no porão de dois metros por quatro que tinha em casa. Só abria a porta pra alimentar a menina. Alguns padres, exorcistas, benzedeiros e até feiticeiros (nos momentos de mais fúria de Enkel, quando se podia ouvir ela se debatendo contra as paredes do porão) foram convocados, mas nenhuma reza, mandinga ou magia acalmava a menina. Ela só saia de lá uma vez por mês, quando precisavam de ajuda de pelo menos cinco homens adultos para amarrá-la e arrastá-la para a igreja.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aos 17 anos, com uma inteligência incomparável para qualquer pessoa residente naquela vilinha, a fúria de Enkel estava cada vez maior. E piorava. Entendia o medo deles, e isso fazia a sorrir, e o ódio nunca explicado, e a vontade de matar, e a vontade de provocar os outros, de sangue, de ser dona da dor só crescia. Uma vez, no dia da igreja, foi jogada de costas contra a mesa da cozinha enquanto era dominada. A mão dela escorregou rapidamente e uma faca foi parar debaixo da saia. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Alguns dias depois, quando seus malditos pais saiam para ir rezar por sua alma, ela tentava quebrar o cadeado pela fenda que tinha entro as madeiras da parede e a da porta. Seus pais saiam juntos de casa uma hora por dia, então já estava com o cálculo feito na sua cabeça. Mas não foi necessário. Não demorou mais de vinte minutos para desvendar o ângulo certo de virar a faca para o cadeado velho ceder. Se foi com ajuda da raiva ou de algo mais, não se sabe. Estava livre. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pulou a janela, com suas roupas sujas e fedendo, duma mistura sangue e urina seca, com os cabelos desgrenhados de ficar 24 horas por dia num local pequeno e úmido. Com metade da vila na igreja, as ruas estavam vazias e foi fácil de roubar de um varal uma calça e camisa de menino e correr em direção da floresta que cercava a vila. Vestiu as roupas, não com muita dificuldade, pois apesar de ser roupas de criança, Enkel nunca desenvolvera muito. Com galhos finos trançados e amarrou os cabelos em um rabo de cavalo. Correu a noite toda. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não demorou muito pra ter que se meter mais pra dentro da floresta, pois os homens estavam atrás dela, gritando seu nome, suplicando para que aparecesse. Mas sabia que no fundo nenhum deles queria que ela aparecesse, seria uma benção se sumisse de vez pra sempre, não é mesmo? Todos estavam apavorados com a ideia de que a o demônio loiro voltasse. Ela só não atacou naquele momento pois vira armas. Esperaria. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Enquanto os homemns adentrava a floresta e as mulheres e crianças se abrigavam em suas casas, Enkel deu a volta na cidade, e entrou de volta nas suas ruas desertas e de pouca iluminação. Andou em direção da igreja. Entrou, sujando o piso de terra molhada, com a imagem de cristo em uma cruz acima do altar, lhe fitando com o olhar triste. Parecia saber que aquela menina não tinha mais alma pra ele, e nunca teve. Ela sorriu, com os dentes escancarados para aquela estátua que não tinha nenhum significado para ela. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Com as mãospequenas, derrubou propositalmente algumas velas que provavelmente tinham sido acesas em piedade de seu ser. O fogo se espalhou rápido. Andando de costas para a porta e olhando o as chamas se espalhar com facilidade, saiu e sorriu. Umedeceu os lábios, e quase que em um piscar de olhos a igreja toda ardia, labaredas amarelas e vermelhas, vorazes e cheia com a fúria de Enkel. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A cidade ia despertando de seus pesadelos, pra viver um real. Pouco a pouco algumas pessoas começaram a sair de suas casas gritando, pedindo ajuda a Deus, e desesperadas. Logo havia uma multidão as costas da garota loira, que não se virou, mas tinha em seu rosto o sorriso do próprio diabo. Se debatendo entre a multidão até chegar à frente estava Elizabeth. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Enkel!" Gritou a mulher ao chegar à frente de todos, mas ficou a uma distância de cinco metros da filha. A menina se virou, seus olhos cintilavam. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Mamãe," soou debochada, e a mulher caiu de joelhos ao ouvir pela primeira vez a voz do seu bebê. A garota riu e se aproximou da mulher de joelhos, puxando-a pelos cabelos pra mais perto do fogo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A multidão se mexia a cada movimento de Enkel, mas ninguém fazia nada. Era como a última dança. Ninguém tinha coragem de falar, até parece que tinham se esquecido como se andava, ou fazia qualquer coisa. "Por quê? Por quê?" Gritava a mãe desamparada enquanto a filha a arrastava pelos cabelos pra mais perto da igreja. Parecia ter uma força descomunal. Jogou a no chão, fazendo um pouco de poeira levantar. Com toda a fúria quente no peito, Enkel falou. No momento pareciam apenas palavras baixas só para a mãe, mas todos os aldeões juraram ouvir como se fossem sussurros dentro dos próprios ouvidos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"O diabo mandou lembranças da onde eu vim, e disse que não se esqueceu dos teus pecados."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Todos olhando Enkel, Enkel olhando todos, sua mãe chorando fracamente. Ela virou as costas ao povo e foi entrando na igreja em chamas, devagar, tranquila, a fúria queimada. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Houve boatos por anos sobre essa história, sobre a roupa que ela usava de verdade, que na verdade ela nem era loira, que a mãe dela não tinha esse nome, que algumas pessoas desmaiaram enquanto ela falava, ou até que morreram. Mas a frase é sempre a mesma. O nome é sempre o mesmo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O porão, o sangue e o fogo.</div>
Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-7711485105732435322011-12-16T19:09:00.000-08:002017-04-03T12:20:17.305-07:00A luz que a lua não tem<div style="text-align: justify;">
E estava ali lua, parada. Minha alma quase sempre inquieta, acalma. Meu pés frios, esquentam. Minha alma derrete, é o verão. Mais uma palavras no papel, um pé na frente do futuro mas não pra seguir, sim pra tropeçar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E a lua amarela, estática, me olhando. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sou tão lua quanto ela própria. Sozinha, precisando de uma iluminação que eu nunca fui capaz de produzir por mim só ser. Preciso de ti como todas as outras coisas que não tenho. Preciso um pouco mais de mim, um pouco mais de não pensar demais. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mais uma vez sozinha. </div>
Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-43617295868701923752011-12-10T14:46:00.000-08:002017-04-03T12:32:18.482-07:00Um dia qualquer<div style="text-align: justify;">
Segunda-feira, um tédio total. O sol resolveu matar todo mundo hoje. Ninguém prestando atenção em nenhuma palavra que a palestrante falava, tanto que até ela se perdeu várias vezes, e não se achava. Gaguejava bastante, provavelmente a primeira vez que fazia aquilo, mas isso não era problema de ninguém. Dia errado pra ela começar, muito quente. Quem diria que depois dali ela beberia tanto o seu fracasso e acabaria em um hospital em coma alcoólico. Mas isso não era problema de ninguém dentro daquele do salão. Cada um tinha seus próprios problemas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O ar estava quebrado, e os ventiladores portáteis que trouxeram não eram suficientes. Uma menina de cabelo cacheada estava grávida de poucas semanas, e batucava o lápis na mesa freneticamente. Mas isso não era problema de ninguém, além dela e do loirinho do fundo da sala, que roía as unhas. O pai. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Outra fungava e espirrava freneticamente, gripada em dezembro com os termômetros 39 graus, talvez 40. Morreu uns dias depois da palestra. Mas nem foi da gripe, atropelada mesmo. Mas isso era um problema de ninguém ali no salão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tinha um cara, chamado... Ninguém sabia o nome dele na real, mas chamavam ele de Jones. Jones dormia em todas as aulas, todas as palavras, o intervalo inteiro. Um vagabundo visto pelos outros dali, babando na classe em cima dos próprios livros. O que ninguém sabia é que ele trabalhava a noite toda pra sustentar a mãe viciada e a irmã menor, tinha no máximo quatro horas de sono decente e ainda tinha que estudar absurdamente mais do que todos em sua volta para manter a bolsa naquela maldita faculdade. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Naquele calor que me faz crer fielmente que o inferno era ali, eu não tinha nenhum problema. Eu achava que tinha, vários. Tipo as contas, os amores, mas os meus eram menor. Eu era menor. Bem pequeno. E no final, todo mundo dentro do seu próprio mundo de problemas, crescendo, chorando, desistindo e morrendo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mais morrendo do que qualquer coisa.</div>
Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-21474458163726691292011-12-04T16:31:00.001-08:002017-04-03T12:32:45.162-07:00Obsoleto- Toda a sua negação não vale um centavo! Eu me lembro bem da vez que tu escreveu, e disse, e sentiu que me amava. Você pode enganar todo mundo, menos a mim.<br />
<br />
- Tanto faz.<br />
<br />
- Da onde que veio toda essa indiferença? E pra que essa indiferença? Tu costumava a me amar, e ler os teus poemas pra mim. Pra que isso tudo agora?<br />
<br />
- Sei lá.<br />
<br />
- Sei lá? SEI LÁ? Porra, Luiza.<br />
<br />
- É, sei lá. <br />
<br />
- Caralho. Eu achei que tu me amava.<br />
<br />
- Eu também achei.<br />
<br />
Coçou o nariz.<br />
<br />
- Vai embora.<br />
<br />
- Eu já fui faz tempo.<br />
<br />
Daí se beijaram. <br />
<br />
E começou tudo de novo. Ela se afastou, ele ficou puto, ela volta, e ele acha que vai dar certo. Mas nunca dá. Sempre dá. <br />
<br />
- Até quando, Luiza? Até quando?<br />
<br />
Ela traga o cigarro lentamente, e sorri com os olhos semi-cerrados.<br />
<br />
-Pra sempre.<br />
<br />
E ri.Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-69494489168772402732011-12-04T14:21:00.000-08:002017-04-03T12:32:57.344-07:00CruelAquela lanchonete, do fim da rua. Tão perto e tão longe. <br />
E tu decidiu que ia se encontrar lá.<br />
Lá com outro alguém, que não eu, que tão distante.<br />
E eu?<br />
Onde eu estou?<br />
-<br />
E eu que só tinha um coração,<br />
me sinto um tanto afundando na lama. <br />
Agora ando pelas ruas esperando que alguém me encontre,<br />
alguém que não é real, ou que não existe.<br />
A culpa é sua.<br />
-<br />
Chora. <br />
E todos seus suicídios, e todos os meus.<br />
Eu vou tentar mais umas vez, vem comigo.<br />
Olha só meu peito aberto, toda a vergonha escorrendo entre meus dentes.<br />
-<br />
As mãos em ti não são as minhas.<br />
As minha mãos não são as minhas.<br />
As suas mãos, cadê?<br />
Cocaína. <br />
E teu sorriso, aberto, maniaco.<br />
E teu choro, sofrido, desesperado.<br />
São 5 e meia da manhã.<br />
-<br />
E então eu morri na praia.<br />
e você feliz na tua casa de campo,<br />
com seus filhos puxando sua saia rodada.<br />
Eu afogado.<br />
Eu morto.<br />
Podia ter sido diferente.Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-34435413618060424932011-11-11T18:21:00.000-08:002017-04-03T12:36:51.821-07:00I do<div style="text-align: justify;">
O salão não é tão grande quanto queríamos, e nem todos os queridos estão por perto. Mas os que estão, são importantes. Essa meia luz, e a nossa música tocando, tu ajeitando meu cabelo desjeitosamente, todo mundo em volta, alguns sentados, alguns de pés, muitas câmeras e flashes. Minhas pernas estão meio bambas, como na primeira vez que te vi.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Teu sorriso é tão lindo, combinando com meus olhos marejados. Meu vestido preto, longo. Se lembra quando eu disse que eu não ia usar longo? E eu nem tô de tênis como eu prometi a muitos anos atrás. Estranho isso agora. E você fica tão lindo de terno como eu disse que ficaria. Dançar com você é tão fácil... Tua mão na minha cintura, e meus braços envolta do teu pescoço. Eu tenho que me controlar pra não chorar, porque isso é tudo que eu sempre quis. Eu e você. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Dublando a letra da música, com a testa encostada, dançando lentamente, num momento que não acaba, e todos sorrindo, e alguns parentes chorando e amigos bebendo, e todo nosso futuro na palma da nossa mão. Pra sempre.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu aceito ter você para o resto da minha vida. É tudo que eu mais quero.</div>
Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-40737689086043248682011-10-31T12:35:00.000-07:002017-04-03T12:50:03.355-07:00Aos meus Amores, Amantes, Amados, e afins.<div style="text-align: justify;">
Meus. MEUS. </div>
<div style="text-align: justify;">
Meus e de mais ninguém. </div>
<div style="text-align: justify;">
Por hoje e só.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Elementos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para as mechas de cabelo colorido, meu peito nu contra o teu. Sorriso que vacila, que cresce, que some. Tudo escuro, teu olhos na noite. E você não sente, não me sente, não se senta. Inquieto, e eu roendo os dedos, porque as unhas já se foram a tempo. Os cafés e a fumaça invisível na varanda. A pouca vodka com muito gelo, muito desdem com pouco caso. Cospe, bate, range os dentes lindamente tortos, e não chora. "Chorar?" Livros, dezenas deles, centenas juntando os meus com os teus. Teus dedos gelados sempre. Caneta, e papel, e tinta na pele, e pele na boca. O verde, das árvores, da camiseta, do lápis, do olhos, da casa. O rosa das bochechas e dos mamilos. A nossa flor mais bonita, cara desmaqueada na manhãzinha, ódio puro. Dentes, mordidas, garras, roxos, risadas bêbadas. A gente. A igreja queimando na mente. Aos triplos, aos quadrupolos. Tiros no escuros, brincadeiras infantis, roupa velha e vestido caro. Milhares de gostos de bocas diferentes, beijos gelados de sorvete de butiá, horas no deck olhando um céu azul que não existe mais. Os chicletes que não me deu, o guaraná. A praça, o retrato (que eu sei que usa com foto de outro alguém). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Água.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aos presentes que nunca foram dados, os desenhos feito a mão, e as cartas. Fita do lado do cabelo da outra menina, e minhas calças rasgadas no joelho quando eu cai de bicicleta. Cheiro bom, perfume barato. Letra feia que tu não entende, aqueles textos meus que tu não entende mais diz amar, e os grandes demais que lê pela metade. O fim era pra ti. Perca de pontos e virgulas, perca de tempo. Tua língua dançando com a minha, as horas jogando. Teus braços, meus abraços. Fotos, espinhas, cabelos crescendo, A última música, o último filme, beijo e colo. Nariz escorrendo. Frio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fogo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Colchão contigo, cantar baixinho, nariz com nariz. Dedos pela coluna, braços, suspiro no ouvido. Gemido. Arrepio. Ciúmes! Muito ciúmes. Todo o ciúme do mundo. Sinuca, sofá. Olhos revirando. Beijos na testa, nos braços, na boca. Lábios rosados. Andar de carro. Fugir de carro. Entrelaçar de dedos. Mentir. Sentar na escada. Morango. Ah, como tu é doce, delicada. Falta de dinheiro, calcinha vermelha. Blusa caída, vergonha. Pescoço e panturrilha. Mãos por todo o corpo. Fotos só as tuas. As palavras bonitas e complicadas sem sentido. Textos e indiretas. Estuda comigo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Internet, muito da internet. Redes sociais, entrevistas, fotos, gostos estranhos e iguais. Muita mentira, muita traição. De amor, de confiança... tipo diamante quebrado. Webcam, pimenta. Queria poder voltar pro teu colo e pros dias antigos. Cappuccino, sete de setembro. Shows desconhecidos, festas, danças promiscuas, dedos onde não deviam estar. Olhos fechados, pescoço posto pra trás e tua mão na minha cintura. Barba roçando no meu rosto e gosto de cigarro. Sedução. Maldita abóbora arrependida. Confiar. Não confiar. Fim de tarde, fim do amor. Por-do-sol. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Terra.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Cueca, eu de sutiã e sorriso idiota. Pizza, sorvete, tererê. Lagrimas, chorando cachoeiras, cortes no rosto, cicatriz, a falta que você me faz. Lábios mordidos, feridas abertas, peito dilacerado. Acidentes de percurso, acidente de carro. Três tchaus em uma noite só, beijos desapaixonados. Cortina florida, cozinha cheia de gente despedaçada. O simples fato de eu não saber quem sou, quem tu é, quem tu foi e quem tu vai ser. Todos vocês. Toda eu. E você me abandonou. Eu te odeio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Você ainda lembram de todas as coisas que passamos? Eu lembro. A primeira frase, a última também. A do meio e a que saiu pela metade. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Provavelmente você nem pensa mais em mim. </div>
Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-23851316391204192412011-10-12T17:47:00.000-07:002017-04-03T13:55:04.598-07:00Madness II<div style="text-align: justify;">
Passei tempos, dias, meses, pensando nesse momento. Ah, Carol... se você soubesse. Meus olhos ardem, eu estou cheio de você, cheio do seu cheiro, todo esse tempo, cheio de uma fúria infinita que desconto a cada chute. Porque diabos você teve que me deixar? Tem muita coisa que eu queria que você soubesse, mas acho que não tenho muito tempo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Você grita demais, mas aqui ninguém vai te ouvir. Além de mim. Podia ter ouvido antes, todos os prós e contras da minha mente, mas escolho isso. Você morrer. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Acho que eu nem sei porque estou fazendo isso. Que horas são? Um dia se quer me amou, princesa? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ando pra lá e pra cá, segurando os cabelos mais compridos que o normal, começando a fazer cachos. Olhando pra você, seus cabelos lisos e loiros, caídos no chão, perto da parede, banhados do teu sangue... é quase arte. Todas as lagrimas no meu rosto, são suas. E as suas, que nunca chorou por mim antes... maldita. Querendo fugir? Não dessa vez. Te pego pelos ombros, e te jogo pro lado. Cambaleante se vai de costas no chão. Te chuto, chuto, todo o sangue que sai ela tua boca, e cortes, a sua falta de respiração. Me é apavorante, mas gosto da sensação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu sempre...amei...você! - minha voz sai como um corvo, entre os dentes cerrados.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Teus olhos castanhos, teus lábios rosados com esse batom que eu nunca vi. E teu cabelo ta com um corte diferente do que eu me lembro. Eu preferia o outro. E pra que toda essa maquiagem? Tu é tão bonita... Desde da ultima vez, eu desejava acabar com você, porque você acabou comigo. Desde a ultima palavra, aquele ódio quando joguei o vaso de flor contra a parede. Furioso. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vou até a mochila, aquela velha que usei na viagem para a Europa contigo, e tiro minha arma, tremendo. Minhas mãos estão suadas demais, odeio isso. Tem um buraco no meu peito, desde o dia que tu foi. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Você caída, sangrando, chorando, tudo arte minha. Nem parece um dia a guria que foi minha. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Carol.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Meus olhos prestes a chorar. Dentes cerrados, engatilho a arma.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Gi-Gil..</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aponto a arma pra tua cabeça, eu não posso suportar ouvir o que tem a dizer, a ouvir sua voz, sentir a tua dor que eu tô provocando. Engulo a seco.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fecho os olhos com força, gatilho apertado. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não tenho coragem de abri-los, então mais uma vez engatilho a arma, e apontando pra minha testa, aperto o gatilho pela última vez. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O dia ficou vermelho, que nem o tom da minha fúria.</div>
Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-44105334095766864942011-10-12T17:28:00.000-07:002017-04-03T13:51:36.037-07:00Madness<div style="text-align: justify;">
Todas os gostos amargos do mundo, estão agora espalhados na minha boca. Principalmente esse gosto de enferrujado, quente na minha língua. Esse gosto de vermelho. Eu consigo ver todo esse ódio nos seus olhos, me olhando, pegando fogo, brasa quente. A cada chute que me da, o gosto fica mais intenso, e eu sinto minha visão ficando turva. Eu não queria perder a visão agora, ver teu rosto enfurecido, é quase arte. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu não consigo ouvir meus próprios gritos, apesar de saber que são altos. Altos demais, que nem você. Cospe em mim, e senta em cima de mim, me desferindo socos no rosto, me batendo contra o chão. É assim que é o amor, afinal? Porque você sempre me disse amar, mesmo que eu fosse embora você disse que me amaria.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Porque tu tá fazendo isso? Que horas são? Quem é você, meu príncipe?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se afasta, com as mãos na cabeça, andando pra lá e pra cá. Me encolho contra a parede, tentando me levantar, num impulso animal, eu sinto tanta dor que não sinto nada. Ah, minha perna ta quebrada. Todas as lagrimas que jamais chorei por você estão no meu rosto, no teu rosto, no chão. Eu tô até próxima da porta, eu podia... não, você me viu. Droga, me pega pelos ombros e me joga pro outro lado, com as costas no chão. Chutes, chutes, sangue, falta de respiração, tudo turvo, entorpecer. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu sempre...amei...você! - me fala em cada chute.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Isso não é normal. Ou será que é assim o amor, afinal? A loucura do amor? Talvez.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Tu fica aí, que tu não vai sair daqui. Não viva.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Teus olhos azuis nem são mais azuis, teu cabelo tá bem diferente do que eu me lembro de antes. Fazia quanto tempo que eu não te via? Uns quatro, cinco meses? Mais ou menos? Não consigo ordenar meus pensamentos agora. Mas esse cabelo não era assim, nem tinha essa barba. Tu sabe que eu não gosto de barba. Será que ficou pensando em acabar comigo desde nossa ultima conversa, que quebrou aquele vaso velho no corredor da minha casa, saiu furioso... mais furioso que agora. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Agora mexendo nessa mochila, tremendo, babando, com os olhos arregalados... Nem parece o homem que um dia foi meu. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Carol.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Foco meus olhos nele, olhos marejados, olhos totalmente vulneráveis. E depois, na arma. Reluzente, engatilhada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Gi-Gil..</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aponta na minha testa, faz uma careta de ódio, engole a seco, mostra os dentes, com toda a fúria amostra. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aperta o gatilho, com os olhos fechados. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O dia ficou vermelho, que nem o gosto quente na minha boca.</div>
Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-91154692577748599332011-09-30T19:41:00.000-07:002017-04-03T13:59:43.520-07:00Metade de mim é amor<div style="text-align: justify;">
- Aonde tu tá?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Hm, no centro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu nem te conhecia direito na época, não sabia toda a diferença que você ia fazer na minha vida, mas eu já gostava quando me ligava pra falar bobagens. Eu gostava da tua voz. Queria agora poder lembrar dela, mas tudo que eu lembro são teus olhos azuis.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-Perto aqui de casa? - me perguntou, e garanto que estava sorrindo, só pelo teu tom de voz. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-Hm... mais ou menos. Tô pra cá da praça do centro já. E já to indo pra casa, tá ficando tarde. - com os braços cruzados, equilibrei o celular no ombro e na orelha. Dei uma olhada no relógio do pulso, e vi que já passava das sete e meia. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Quer que eu te leve pra casa?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu queria, claro. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Encostada na parede de fora do meu sebo preferido, com uma sacola de livros velhos - mas novos pra mim - nas mãos. Fiquei olhando a chuva fina caindo de leve.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Que isso! - fiz uma contradição da minha própria vontade. - tá chovendo, não quero incomodar, não precisa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu não me importo com a chuva. Tem certeza?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Tenho, tenho. Sério, não precisa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ah, tá bom... tchau. - senti uma pontadinha de decepção na voz dele.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Tchau.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Desligou. Fechei o telefone, e joguei dentro da sacola de livros.Baixei a cabeça e encarei a chuva fina e fria. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Como posso ser tão estúpida ao ponto de recusar que ele me levasse até em casa? Andei mais rápido do que o normal, engolindo a tristeza e decepção de mim mesma. Mordendo o lábio, pensando em possibilidades absurdas se eu tivesse aceitado a companhia dele. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De longe, ouço passos de corrida atrás de mim, claro, com a chuva aumentando desse jeito. Os passos vão diminuindo enquanto se aproxima de mim, e quando olho para o meu lado, ele, sorrindo, com as mãos pousadas nos joelhos recuperando o folego, e me olhando com os olhos azuis muito claros. Um sorriso bobo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Uau - deu uma pausa pra puxar o ar - você anda bem rápido. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não acredito que você veio até aqui correndo! - ri, abraçando-o. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Se você quiser, posso voltar pra casa e... - falou apontando o polegar pra trás, sorrindo pra mim. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Para de bobagem. - dei mais um abraço dele, sentindo o cheiro do perfume no pescoço. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele me deu a mão e andamos na chuva, conversando pouco e se olhando muito. Foi uma caminhada de uns 10 minutos até a esquina da minha casa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Obrigada por vir. De verdade. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não tem problema, madame. - ele sorri. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Então tchau. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Tchau.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Me olhou nos olhos,crispando o lábio, e virou as costas indo embora, olhei por uns segundos ele ir, e virei as costas pra ir embora, mas antes de dar o primeiro passo ele me chamou, voltando correndo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-Hey! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Me puxou pelo braço e me beijou na chuva, em baixo apenas da luz da lua. Eu me perdi no mundo por alguns segundos. Tudo que eu sentia era o gosto, o cheiro, o toque, o abraço, a língua, os olhos fechados, a alma.... Quando ele me soltou de seus braços, eu ainda estava de olhos fechados, e um tanto tonta. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele sorriu, se afastando, sem dizer nenhuma palavra. Não que eu ache que precisasse de alguma palavra. Estava tudo feito. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Devo muito a ti e aquele dia. Foi ali que eu descobri que eu podia ter em quem confiar, um abraço e um ombro amigo. Foi ali, que, na primeira vez me senti amada de verdade. Me senti num livro, como os que eu carregava. Eu tinha descobrido o que era amor.</div>
Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-32271470402148459872011-09-30T15:38:00.000-07:002017-04-03T14:02:14.481-07:00The Doors<div style="text-align: justify;">
Eu não gosto quando as coisas ficam nubladas na minha cabeça. Geralmente eu consigo lembrar de todos os fatos com clareza, todos os detalhes frescos. É fácil, quase um vício. Ter uma boa memória sempre me ajudou a escrever.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não é o caso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tinha um porta, eu de um lado, você do outro. Eu sei que porta é essa, mas no momento, nas minhas lembranças era como e fosse uma porta prendida ao tempo e ao espaço, uma porta ou um portal. Você carregava em seus ombros algo realmente pesado. Uma caixa? Um amplificador? Todos as tuas dores e seus pecados? Não sei. Ridiculamente, mas minhas mãos papéis leves, que nem minha alma naquela época. Um contraste estranho. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando eu dava um passo a frente, você fazia o mesmo. Quando eu abria espaço pra trás, você fazia o mesmo. Uma sincronia idiota que durou menos de dez segundos, mas que foi suficiente pra arrancar esse teu sorriso no meu, minha timidez na tua. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Oi."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Oi."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Daí você passou, e eu também, e a mágica se desfez e tudo agora é tão nítido que não me tem mais graça. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A segunda porta que eu te vi, foi na minha, acompanhado de gente que eu conhecia tão pouco mas fiz questão de comentar algo estupido, pra que tu notasse minha presença. Não precisava disso, vi teus olhos em mim, assim como os meus em ti. Disfarçando, lentamente, encostado na parede com seus fones de ouvido branco, fazendo um solo de bateria invisível, vestindo seus all star azul e sua flanela vermelha. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Te vi através de uma porta de vidro, outro dia, também. Sentado no banco, com um livro no colo. Bem concentrado, sentado totalmente largado bem do jeito que eu faço. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na porta de elevador, me sorrindo e me dando bom dia, perguntando o meu nome, ou acenando pra mim da porta do prédio. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Muitas portas. Muito eu e você.</div>
Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-14670868770601934082011-09-25T19:27:00.000-07:002017-04-03T14:04:23.594-07:00Preview<div style="text-align: justify;">
Me empurrou, e eu cai do meio fio que eu me equilibrava. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Para, como tu é chato!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É um daqueles meus rituais, de quando eu era pequena, andar no meio-fio da rua, equilibrando-me ali como se toda minha vida dependesse disso. Ele nem liga muito para o que eu ligo, me empurra sem meu consentimento. Me irrita tanto esse sorriso constante, esse sorriso torto e todo debochado, esses olhos semi-cerrados por causa do sol, esses braços cruzados no peito em baixo da manga curta verde, esse cabelo que eu mesmo baguncei.... Me irrita. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Tu que é um porre, guria.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Continua sorrir, e rir, e eu faço uma careta de desaprovar. Ele não é muito de ligar e sustenta o sorriso. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Maldito. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Dai, daqui a pouco eu nem lembro porque eu tô brava com ele. Ele sorri tanto que faz eu me esquecer do... </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
do que eu tava falando mesmo?</div>
Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8037916455652045577.post-77105249238069217812011-09-18T20:03:00.000-07:002017-04-03T14:04:37.979-07:00Pra você:não é que<br />
<br />
eu precise<br />
<br />
de você; eu<br />
<br />
só preciso<br />
<br />
de alguém.Divina Francishttp://www.blogger.com/profile/17729115193380995034noreply@blogger.com1