A primeira vez que eu te vi, tudo estava desmoronando pra mim. Minha vida não passava de pesadelos e sonhos tristes. Você com seus amigos inseparáveis, e eu com minha solidão, sentado no ponto de ônibus, esperando um caminho mais fácil pra minha vida. Meu coração não pulsava tão rápido até aquele momento. Talvez tivesse sido melhor se eu fosse cego, e jamais tivesse visto seus cabelos vermelhos a voar pelo ar, enquanto sentava do meu lado. Conversamos. Você com seus papos chatos de livros, e eu não entendendo nada se não sobre minhas músicas alternativas e antigas. Era como se você fosse areia nos meus olhos.
Na segunda vez que eu te vi, eu já tinha decidido que ia ir embora daquela cidade que já estava me dando muito nojo. Sentamos em um pub da cidade, pra conversar sobre isso, e eu depois de alguns copos de cerveja, perguntei se talvez, só talvez, você esperaria por mim. Estava sóbria, como sempre, e com a língua afiada, como se fosse uma navalha sobre o meu rosto e corpo nu. Disse que a vida não era uma estrada, muito menos uma rodovia, e que talvez teria sido muito melhor se tivéssemos nascido como pássaros siameses. Foi naquela noite, de estrelas foscas que eu decidi não ir. E não fui. Muita idiotice minha.
A terceira vez que te vi, convidei para ir no zoológico comigo. Não sei porque, mas até que foi divertido. Um programa idiota, com todos aqueles macacos tristes, pendurados melancolicamente com suas caudas, os pavões coloridos e seus grandes olhos sorridentes. Tomamos cerveja quente, direto da latinha, e você ria, com os lábios contorcidos na tristeza, com as expressões da dor, assim como a minha. Eu queria muito não ter sentado naquele banco amarelo, e não queria ter segurado sua mão. Foi como selar um contrato com o diabo.
A quarta vez que te vi, eu mesmo fui naquele seu apartamento sujo no centro da cidade do caos. Eu toquei o interfone e você disse estar ocupada. Eu não liguei, e continuei a te chamar por ali. Não satisfeita com toda a destruição que sabia que eu já sofria, você desceu as escadas, com aquele roupão preto, e do seu lado, como um troféu, tinha um novo cara. Tinha que ser eu ali, só nos meus jeans, sem camisa, quem nem ele estava. Me perguntou porque eu estava lá.. e eu...eu...eu fui embora deixando meu coração sangrento e partido diante de seus pés.
A quinta vez que eu te vi, já fazia mais de um ano que a gente não se falava. Nossos amigos já não eram os mesmo, porque seu marido estava trabalhando no exterior, e você simplesmente decidiu fazer amigos novos. Seus olhos eram distantes, assim como a lua. Não me olhou no rosto, falou vagamente e pouco. Eu fumava um cigarro a cada minuto. Eu queria me afogar na vodka pura, e você mais uma vez sumiu.
A sexta vez que te vi, eu não te vi muito bem. Eu estava apropriadamente louco, bêbado pelo uísque, viciado em entorpecentes. Você só olho pra mim pelo canto do olho. Será que me reconheceu?
Na sétima vez que eu te vi, você estava casada de novo. Era outro cara, e todo mundo dizia como ele era parecido comigo, ouvindo as mesmas musicas e até aquele jeito de arregaçar as mangas que você disse que era muito charmoso, até nossos cabelos eram parecidos, descabelados, e quase encaracolados. Talvez se eu tivesse te beijado apenas uma vez, naquele banco amarelo, enquanto estava segurando sua mão, as coisas não seria assim. Talvez o céu tivesse um tom mais colorido, e não me chovesse cinzas todos os dias.
A oitava vez que eu te vi, aquela banda que você tinha me encorajado a montar nos primeiros dias tinha vingado. Eu estava no palco, daquele barzinho sujo, com um sorriso amarelo nos lábios, dedilhando a guitarra lentamente. Você estava desacompanhada e não parecia nem me notar, seus ouvidos não eram pra mim. Sempre com o celular nos ouvidos, falando baixo e rindo. Estava lá só para depois não dizer que nem tinha ido. Você esticava a mão para o garçom, e nós não tínhamos tocado nem a terceira música. O garçom parecia cego, e não enxergava sua mão, e você ficava cada vez mais nervosa, passando a mão nos cabelos sempre tão bagunçados como sempre foi a nossa relação. Fechei os olhos devagar, porque o meu maior desejo era ser cego.
E então a última vez que eu te vi. Eu tinha até conseguido parar com os cigarros, mas não dormia faz dias. Tinha passado a noite toda acordado, e alguém lhe contara isso. Eu sentado em um banco de uma praça qualquer, e você apenas se aproximou em um carro estranho dirigido por ninguém. Sentou do meu lado, e sem me dizer nada finalmente me beijo, mas ele tinha um gosto salgado e de adeus. Então se levantou e dentro das suas saias curtas me acenou um adeus sofrido, e desapareceu. Pra sempre.
Eu sinto que todos os dias fossem como me esmagar. Eu simplesmente não tenho forças pra levantar todo dia da minha cama desarrumada e dos meus sonhos bagunçados. E você sempre está neles, e sempre vai estar, pra minha infelicidade. Eu vou e volto do trabalho, vejo seus novos velhos amigos, tomo meu café azedo e amargo, enjoado desde o dia que meu coração despendeu do seu peito.
Não sei.
ResponderExcluirEsse texto não me passou nada. Acho que pra mim é dificl tolerar que o tempo passe pra pessoas, (ou personagens que sejam)e eles se comportem como se tivessem cinco anos. Acho que com as esticadas de tempo é muito mais facil voce endurecer do que virar um amante voluntario das coisas belas. Desculpe se eu estiver bancando o Mano Brown...rs.
Sendo observador, este texto parece oco. Parece uma trabalho do google transalator, parece que era outra coisa...ai ficaram as letras, mas o encanto, a alma, isso escorreu.
Ou talvez, realmente, isso tudo não signifique nada pra mim por egoismo seu.