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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Muga.

Pamella não tinha uma ficha muito boa. Todo mundo sabia que ela era louca, e que fazia o que bem entendesse. Como naquela vez que jogou tintas de todas as cores nas paredes da escola. Foi punida e gostou. Coberta de tinta. Um arco-íris. Foi expulsa, pois bateu em varias meninas ( e meninos). Quebrou o nariz quatro vezes, duas o braço esquerda e uma vez o fêmur direito. Ficou no hospital dois meses, da vez que com 14 anos pegou o carro da mãe escondida e colidiu de frente com um poste.Diziam que estava bêbada.  "O poste está bem, muito obrigada" falava, rindo alto e pintando as unhas de preto.

"Essa menina é louca, João" Todos diziam ao seu pai, que já cansara de tentar castigá-la, prende-lá, até dar uma surra. Parecia que isso só a estimulava a ficar com aquele sorriso sarcástico no rosto, com os lábios cheio de sangue. Diziam por aí que já transava com metade da cidade, desde os 13. Eu até acreditaria, se não tivesse a conhecido bem.

Gritava por vingança, matou animais na frente de pessoas, dizendo que era o anti-cristo. Pura diversão. Quebrava pratos, televisões, e tudo que via pela frente na casa da mãe, quando com raiva. Explodia as coisas, machucava as pessoas e os sentimentos. Pamella não era uma boa menina.
E isso tudo antes dos 17. Isso tudo antes de saber o que era o amor.

Sentada na calçada, descascava as unhas com um canivete. Momento raro, de Pamella calma, de cabelo  sem cores excêntricas e sem muito preto. Mas não deixava de ser a Ovelha negra da familia. Mascava o chiclete de boca aberta, ali, no sol das 3 da tarde. Um guri chegou perto. Era normal de mais. Ela olhou-o por três segundos e depois voltou para as unhas. Não interessava. A principio.
- Você que é a Pamella?
- O que você acha?
- Acho que sim. É ou não é?
- Talvez...faz diferença?
- Se não fizesse eu teria passado reto.
- Tem um cigarro?
- Tenho.
- Passa ai.
- Tu é a Pamella?
- Vai me dar o cigarro?
- Se você confirmar...
- Senta ai.
 Sentou. Grande erro. Ela riu e deu uma cotovelada nas costelas do garoto, mas devagar, nada de agressividade. Tinha passado a noite em claro. Era evidente na maquiagem borrada, quem até acentuava sua beleza.
- Me dá o cigarro. Sou ela.
- Hm. - Pega um cigarro, e dá outro a ela. Guarda a carteira. - Bom saber.
- Cadê o fogo?
- Não tenho.
- Você tem cigarro e não tem fogo?
- Você pediu cigarro, não fogo.
- Agora tô pedindo fogo! - quase irritada, mas se divertindo.
- Eu já disse que não tenho. - Se divertindo, tranquilo.
- Inferno.
Silêncio.
- Toma seu cigarro inútil de volta. - Fecha a cara, mas ele sorri.
- Tá. Hey Pamella, porque você é assim?
- Ah?
- Louca.
- Não sou louca.
- Ah, é!
- Nem sou!
- Tô dizendo que é!
- VOCÊ NÃO ME CONHECE!
Silêncio.
- É verdade. Não te conheço.
- Eu disse.
- Quem é você?
Silêncio.
- Não vai responder? - Ele falou, brincando com uma pedrinha da calçada.
- Não.
- Por...?
- Não tô afim.
- Ah, tá sim.
- Como você sabe?
- Tô lendo nos teus olhos, Pamella.
- Ah, tá, agora você lê olhos?
- Só os seus.
Silêncio.
-Quem é você? - Agora ela pergunta.
- Seu futuro marido.
Gargalhada alta dela, sorriso calmo no rosto dele.
- Como é que é?! Ahahahha - não consegue parar de rir.
- Okey, vou pegar mais leve. Seu futuro único amor. E se você deixar escorrer pelos dedos, você vai morrer provavelmente ainda esse ano. E olha que não falta muito pra ele acabar, não é?
- Para com isso, garoto. Eu nem te conheço.
- Conhece sim. Eu sou seu namorado.
- Isso é um pedido?
- Não. É um fato.
- Não sabia que EU namorava. Faz tempo?
- Desde que você nasceu.
- Uau. - riso abafado. E silêncio. Pensa.
- Tudo bem? - ele pergunta,a ver ela olhando séria o chão.
- Você é mais uma daquelas pessoas que não existem que eu invento?
- Você inventa pessoas?
- Pessoas não. Amigos.
- Eu sou real, Pamella. Pode tocar. - Estica o braço, e ela passa o dedo indicador dos dedos dele, até o cotovelo.
- Mas ser físico não significa ser real.
- Ah é? Essa é nova pra mim.
- As pessoas são físicas, mas são falsas.
- Isso é verdade. Mas eu sou real, e verdadeiro.
- Espero que sim.
Silêncio.
- Eu gosto de você, Pamella.
- Eu nem sei seu nome.
- É verdade. Vamos fazer assim, você pode me chamar do nome que você achar mais bonito no mundo inteiro. Quero ser perfeito pra você.
- Ninguém é perfeito.
- Eu vou dar o meu máximo. Qual meu nome?
- Hm, deixe eu pensar.
- Não pense muito. Pensar demais as vezes é ruim.
- É verdade. As vezes dá até pra mudar de idéia.
- Não quero que você mude de idéia sobre mim, Pamella.
- Eu também não.
- Então vai.
- Vai o que?
- O nome!
- Ah, já tinha esquecido. Desculpe.
Silêncio. Dessa vez curto.
- Vou te chamar de Muga.
Ele ri.
-?
- É uma sigla.
- Hm, interessante.
- Quer saber o que significa?
- Você quer falar?
- Ahan.
- Então tá.
- Meu único grande amor.
- Achei bonito.
- Eu também.
- Quer dar uma volta, Pamella?
-Ahan.
Se levantam.
- Hey, Muga...
- Que?
- Te amo.

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